domingo, 8 de novembro de 2009

breve diálogo reticente...

Ao se encontrarem tempos depois eles:

le chéri: Olá, como estás?

la passionnée: bem, e você? O que tem feito?

le chéri: Ah, estou muito bem. Muitos amores me cercam, todos repletos de tanta sinceridade, algo especial.

la passionnée: Que bom, isso muito me alegra! Quais são estes amores com sabor tão especial?

le chéri: Ah, sei lá, me constrange falar-lhe acerca de certos assuntos, afinal me permiti pertencer-lhe ao menos por alguns dias, esporáricos, mas pertenci.

la passionnée: Sim, entendo. Acredite, nada me ocorrerá. De uns tempos prá cá, tenho estado em um estado de coisas muito diferente. Mas lhe constranger não me agrada.

le chéri: ...?...

la passionnée: Mon Chéri, não me agrada também. É exatamente pelo fato d'eu ter pertencido a ti apenas por quartos de dias esporádicos. Ao tempo em que me pertencestes apenas no decorrer de algumas horas, lhe pertenci por muito mais tempo que imagina. Agora tenho apenas o desejo em ver-lhe feliz e tão menos confuso como antes.

le chéri: Nos pertencemos por apenas horas e não mais a um que a outro. Não me recordo de tempos onde expressou-me que as horas (como prefere) tenham sido mais do que isso e chegado a serem dias seguidos.

la passionée: Sim, pois muitas foram as palavras que usamos para expressar o que queríamos e poucos foram os momentos que nos entendemos. Aliás as muitas foram poucas, assim como as poucas horas. Portanto por meio da pouca falta de jeito nos limitamos a falar pouco... Mas sim, você disse que não se recorda de tempos em que lhe expressei o passar das horas, dias e até afirmaria aqui meses, em que preso esteve em meus pensamentos. Sinto, sinto muito, mas acho que lhe estragaria o gosto doce e fresco da felicidade, então saiba apenas que lhe amo, assim, como humano que és.

le chéri: Está certo! Não saberia mesmo lhe dizer nada de acolhedor. Assim manteremos nossa polidez estética.

la passionnée: Polidez estética é nossa pior qualidade. A qualidade dos que muito pouco revelam ao mundo, se apegando ao que vivem no onírico. E com isso somos felizes pela metade.

le chéri: Sim, sim...tenho que ir, vou a uma festa. E você, vai ficar por aqui para ver o resto?

la passionée: Não, estou indo. Boa festa!

le chéri: Ah, vamos juntos, assim lhe apresento minhas felicidades.

la passionée: Vamos sim, estou livre das reticências das horas passadas.

le chéri: Que bom! Vamos, porque você me deixou algumas reticências neste último quarto de hora.

la passionée: ...rs


Ao fundo do diálogo tocava uma música do Cartola, em um destes butecos da avenida São João.

Minha - Cartola

Minha
Quem disse que ela foi minha
Se fosse seria a rainha
Que sempre vinha
Aos sonhos meus

Minha
Ela não foi um só instante
como mentiam as cartomantes
como eram falsas as bolas de cristal

Minha
Repete agora esta cigana
Lembrando fatos envelhecidos
que já não ferem mais os meus ouvidos

* A música foi add em 09/11

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